A face do desamparo: os semblantes de Senua










Todas imagens acima são screenshots retirados do jogo.

    Há um certo tempo atrás, tive o prazer de completar o jogo “Hellblade: Senua’s Sacrifice”, e gostaria de poder compartilhar um pouco da minha perspectiva, a partir da experiência maravilhosa que tive com esta obra de arte.
Dizer que este jogo me proporcionou uma experiência “imersiva” seria brando demais, os momentos que passei conhecendo, adentrando e acompanhando a jornada de Senua (a personagem protagonista da história), foram momentos intensos, marcantes, que produziram em mim sensações, sentimentos e reflexões memoráveis.
    A trama do jogo gira em torno da jornada da protagonista, Senua, uma jovem mulher que está em busca de encontrar seu caminho através do seu próprio “Inferno”, tentando processar os eventos do seu passado, sendo perturbada pelos seus traumas, lutando constantemente com a sua “sombra” e os seus “demônios” interiores. Senua está em busca de uma maneira de dar sentido ao seu sofrimento e encontrar sua paz.
    A riqueza  de detalhes e o simbolismo presente neste jogo é algo profundamente excepcional, começando pelo elemento mais clássico, a jornada do herói, que é justamente a base da trajetória de Senua. Ela precisa ir até o inferno, para poder entender e vencer os males que a perturbam, e buscar a confrontação final, sacrificando-se incondicionalmente para o sucesso de sua missão.
    O que faz este jogo ser tão incrível, além do fato de ser visualmente deslumbrante e produzido com uma enorme riqueza de detalhes, é o fato de que Senua é uma pessoa esquizofrênica. Ela constantemente é atormentada pelas produções alucinatórias do seu inconsciente que retornam para ela como visões, sons, distorções de sua perspectiva da realidade, monstros e sombras que a peseguem, entre outras manifestações.
    É incrível a precisão e a beleza como os criadores do jogo conseguiram imbuir o elemento da psicopatologia dentro do jogo. A mistura de símbolos; a fantasia; as imagens oníricas e projeções do próprio sofrimento psíquico da personagem; tudo isso perfeitamente encaixado e projetado na tela. Senua está em um momento de crise, de enfrentamento, ela tenta entender e processar o que aconteceu em seu passado, ela é constantemente atormentada por reminiscências de eventos traumáticos, que geraram as mais variadas produções imaginárias e sintomas invasivos. 
    O jogador, fica constantemente em contato com essas distorções da realidade, o jogo produz uma sensação de confusão diversas vezes, não da pra ter certeza se o que ocorre é “real” ou se são apenas elementos internos da personagem retornando para ela como alucinações. Senua ouve uma voz externa constantemente, a voz de sua “sombra”, que está sempre a proferir uma retórica crua e ríspida, de caráter antagônico para cada situação que se passa, para cada momento crucial, decisão e reflexão que a personagem faz ao longo de sua trajetória.
    Em última instância, o “sacrifício” de Senua não é de corpo, é simbólico, é mental, é uma confrontação consigo mesmo, é um ser desamparado e sozinho lidando com seu próprio caos interior. Mas ela não se entrega, ela não sucumbe, ela vai até o fim. Ela consegue enfrentar seus demônios, consegue dar sentido ao seu sofrimento, ela morre e nasce de novo, ela conclui a jornada do herói.
    Para finalizar, selecionei 10 screenshots, que tirei durante minha experiência de jogo, para tentar demonstrar um pouco o contraste entre a beleza e o sofrimento que esta obra proporciona. Os semblantes de Senua falam por si próprios. É isso...


Elvis Farias – 07/2022


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